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Gestão patrimonial com “cashback”


*Rogério Carvalho



Fazer uma compra e receber parte do dinheiro de volta tem sido uma estratégia do e-commerce que caiu no gosto dos brasileiros, assim como o próprio e-commerce, que foi descoberto por muita gente nos últimos meses como uma alternativa de consumo, mantendo o isolamento social.


Em 2020, cerca de 13% da população fez sua primeira compra on-line, segundo a Infobase Interativa. Testado e aprovado pelo consumidor no varejo, a lógica do cashback também está ganhando força no mundo dos investimentos. As plataformas independentes têm conseguido devolver até 50% dos custos relacionados à gestão personalizada que realizam para seus clientes. Para 2021, essa é uma história que tende a ter desdobramentos importantes na esfera tributária com as plataformas ganhando ainda mais espaço frente aos grandes bancos.


Com estrutura mais enxuta, essas empresas estão alterando a lógica da remuneração dos gestores e consultores de investimento, criando uma relação ganha-ganha para todos, principalmente para o investidor. O modelo de consultoria independente, na qual o investidor paga um valor fixo para o consultor apontar as melhores direções para suas alocações, vem crescendo no Brasil. Em mercados mais maduros, como os EUA, por exemplo, cerca de 43 milhões de investidores utilizam o serviço, o que representa um salto em relação aos pouco mais de 23 milhões de 2012. Além da questão da transparência na remuneração do consultor e dos ganhos intangíveis de confiança na relação, os investidores estão vendo cada vez mais o dinheiro, de fato, voltar para suas contas.


Vamos pegar como exemplo, um cliente que tenha R$ 20 milhões aplicados em uma plataforma independente e seja atendido por um gestor patrimonial que segue o modelo de remuneração “fee baseei” e pratique uma taxa anual de 0,5% do patrimônio líquido. Fazendo uma gestão ativa da carteira do cliente e tirando o melhor proveito possível da plataforma de investimento, esse profissional consegue devolver para o cliente até 60% dos custos de gestão patrimonial para o investidor. Nesse exemplo, seriam R$ 60 mil em cashback em um ano para o cliente, que pode, dentre tantas opções, reinvestir o dinheiro e fechar esse ciclo em que todos saem ganhando.


Na verdade, nem todos. Alguns dos chamados bancões estão perdendo espaço,já que não trabalham nesse formato. A pesada estrutura deles dá pouca ou nenhuma margem para trabalhar com esse modelo de remuneração. Mas o cashback já é uma realidade que veio para ficar. É um elemento importante nessa transformação do modelo de remuneração do consultor de investimento e, em 2021, pode ganhar ainda mais força com uma potencial isenção de Imposto de Renda (IR).


O mercado está se mobilizando, via Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros), para apresentar uma consulta pública à Receita Federal logo neste início de ano. O objetivo é isentar o cashback de IR para valores mobiliários, o que o tornaria ainda mais competitivo, aumentando consequentemente a atratividade das plataformas frente aos grandes bancos aos olhos do investidor.


A linha de argumentação se baseia no entendimento de que o cashback representa um desconto, e não um acréscimo patrimonial.


No caso de fundos, por exemplo, o cliente atualmente é cobrado pela taxa de administração na íntegra -sob a qual incide a tributação- e recebe o cashback como um desconto dessa taxa.


Hoje, por ser entendido pelo Fisco como uma renda, há incidência de IR sobre o total mensal revertido, independente do produto financeiro, seguindo a tabela progressiva que chega à alíquota de 27,5% para valores acima de R$4.664,69.


Há um precedente importante também nesse sentido, que diz respeito ao cashback gerado pelas compras no e-commerce. Para essa modalidade, a Receita Federal já se posicionou de maneira favorável à isenção.


Para as plataformas, a consulta à Receita e a eventual mudança na tributação não traz nenhum ganho financeiro direto. A motivação está em defender o interesse do cliente final e representar os parceiros consultores e gestores patrimoniais. O setor entende que o incentivo a esse modelo de remuneração fixa que envolve o cashback está em linha com o propósito de transformar o mercado financeiro para melhorar a vida das pessoas.


Certamente o ano de 2021 será inesquecível por razões de saúde, tendo em vista o início do fim da pandemia com a chegada das vacinas. Mas o ano também deixará lembranças do ponto de vista econômico. Talvez no futuro, quando a gente contar sobre esse ano para os nossos netos, uma parte da história vai ser dedicada às mudanças que nos levaram a tirar o dinheiro dos grandes bancos e buscar alternativas mais modernas, ágeis e seguras para os investimentos. Esse é só o começo.


*Rogério Carvalho é sócio e head da área de Wealth Services da XP Investimentos E-mail: rogerio.carvalho@xpi.com.br


Conteúdo extraído do Valor Econômico


FONTE: Varejo SA

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