Maurício Galhardo, head da F360 Educa ensina alguns caminhos para pequenas e médias empresas organizarem suas finanças
Ainda que a Selic, a taxa básica de juros da economia, aponte para um ritmo de queda, o que pode impulsionar o consumo no segundo semestre, é preciso olhar com atenção as finanças da sua loja para conseguir passar por este ano sem prejuízos. Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas do varejo devem alcançar um crescimento real de 1,5% em 2024. Essa estimativa está em linha com a do Produto Interno Bruto (PIB), que deve crescer menos em 2024, em torno de 1,5%, na comparação com 2023, quando estima-se que tenha subido cerca de 3%.
Com esse contexto e para ajudar a equilibrar as finanças, Maurício Galhardo, Head do F360 Educa, plataforma de cursos voltados para varejistas, elencou algumas dicas para que donos de pequenas e médias empresas do varejo, mesmo estando no segundo trimestre do ano. Confira abaixo quatro tópicos elencados e explicados na íntegra pelo executivo: planos de gastos, precificação, método de pagamento e conciliação bancária.
Plano de gastos
O primeiro princípio de uma boa gestão financeira é não gastar mais do que se recebe – então tenha isso sempre em mente. O segundo princípio, justamente para ter clareza do que entra e do que sai do caixa da empresa, é o plano de gastos, uma ferramenta onde o gestor coloca os gastos da empresa e as previsões de receita. Isso é de extrema importância para manter a organização dos recursos e um fluxo de caixa saudável.
É interessante dividir os gastos que a empresa tem em “caixinhas”, porque isso ajuda a identificar para onde o dinheiro está indo – e também fica mais fácil ver onde é possível cortar gastos, caso seja necessário. Não há uma fórmula única para se criar um plano de gastos. Uma planilha pode funcionar muito bem, mas o mais importante é que seja algo funcional, que você realmente sinta facilidade para usar (e assim não abandone em pouco tempo).
Tomando como base uma planilha simples em Excel ou no Google Docs, de forma básica, você precisa colocar no documento os meses do ano na primeira linha. Já na primeira coluna, coloque as suas “caixinhas” de gastos. Comece com os gastos fixos, como o aluguel, a conta de internet, o contador, a folha de salários, e assim por diante. Depois, liste os gastos variáveis, como a compra de estoque, por exemplo.
Com isso feito, é só lançar todos os gastos da empresa e, ao final da coluna de cada mês, você terá os seus gastos mensais. Após listar as despesas, inclua a estimativa de receitas e aplique as fórmulas adequadas para que a planilha some as despesas fixas e as não recorrentes e subtraia esse valor da sua receita. Com essas continhas você saberá se está sobrando dinheiro ao final de cada mês ou não.
Se não estiver, lembra da primeira regra de uma boa gestão financeira? Pois é: não gastar mais do que se recebe. Se não estiver sobrando, o ideal é mexer nos gastos, tentar fazer com que caibam no orçamento. Vale, então, olhar com atenção cada caixinha e ver onde é possível fazer ajustes.
Para empresas de porte um pouco maior, o mais habitual é fazer essa análise na DRE, que é a Demonstração de Resultados do Exercício. Ela é uma planilha que consolida a estrutura do negócio, traz o regime de competência, mostrando as vendas feitas no período e todos os custos relacionados a essas vendas. É importante ter a DRE atualizada, porque ela vai ajudar a entender se a estrutura do negócio está sólida.
Precificação
Muitos empresários, quando abrem um negócio, conhecem tecnicamente o que fazem, sabem vender o serviço ou o produto, mas isso não basta. Eles acabam não adquirindo conhecimento do que chamamos de parte estrutural e financeira, e por isso acabam se dando mal. O alto índice de mortalidade de pequenas empresas é um reflexo disso.
Formar preços, de fato, não é algo tão simples. Mas é completamente viável a qualquer dono de empresa aprender. Para fazer a precificação, é preciso entender que a composição do preço de venda é feita em quatro partes: uma delas é o custo do produto ou do serviço; a outra é formada pelos gastos variáveis do negócio (aqueles que variam conforme faturamento, como impostos, comissões, frete e outros); a terceira engloba os gastos fixos (tudo o que não depende do faturamento podendo ter oscilação no valor ou não, como a conta de luz, os custos com funcionário etc); e, por fim, o percentual de lucro que se deseja ter.
Na hora de compor o valor de venda é importante ter uma visão clara dessas quatro partes, para então juntar tudo e chegar ao preço final. Esse preço, por sua vez, tem que estar adequado ao mercado, para que você consiga vender. Caso o preço de venda fique acima da média dos concorrentes, é preciso rever a estrutura, para tentar baixar o preço, ou analisar se vale a pena cobrar mais, já que a sua empresa oferece um diferencial.
Agora, se o preço de venda ficou abaixo do mercado, você pode escolher deixar assim um produto ou outro, para chamar o consumidor para o seu negócio e agregar vendas de outros produtos ou serviços. A outra opção é igualar o preço aos do mercado, aumentando a sua margem. É tudo uma questão de estratégia.
À vista ou parcelado?
Na sua loja, é automático perguntar “crédito ou débito” ou “quer parcelar em quantas vezes”? Mudar esse hábito pode melhorar seu fluxo de caixa!
O problema de oferecer o parcelamento muitas vezes aos clientes, em seis ou até dez vezes, é que o lojista é quem acaba financiando a compra da clientela – às vezes mais do que deveria, indo além do desejável.
É claro que a recomendação aqui não é parar definitivamente com as vendas parceladas – não é por aí o caminho. Mas, se você consegue observar que alguns vendedores têm índices elevados de parcelamento, enquanto outros não, cabe um treinamento para a equipe. Afinal, se alguns vendem com prazos menores, pode ser que mais clientes aceitem também comprar com menos parcelas, e até à vista, o que vai aliviar bastante o fluxo de caixa.
A orientação é conversar com a equipe de vendedores, explicando a situação e os problemas que o parcelamento excessivo pode trazer ao negócio. Treine os vendedores para que não ofereçam, logo de imediato, o parcelamento em dez ou seis vezes.
Em uma primeira abordagem, o ideal seria oferecer a venda à vista, e caso o cliente peça o parcelamento, oferecer em três vezes. Se quiser ainda mais parcelas, aí vale uma negociação: quer levar mais alguma coisa para que a gente possa parcelar em cinco ou sete vezes? O parcelamento vira parte de uma negociação, que pode aumentar o tíquete médio da venda.
Conciliação bancária
Quando se fala em fazer a gestão financeira de um empreendimento, é preciso, além de gerenciar os gastos, controlar as vendas. Isso mesmo!
Você recebe tudo o que vende? A pergunta pode soar absurda, mas, acredite, nem sempre o lojista recebe tudo direitinho. Às vezes há uma inconsistência entre o que a loja vende por meio de cartões de crédito e débito e o que, de fato, entra na conta bancária da empresa. Isso acontece por falhas em sistemas – e aí algumas vendas podem não entrar nos relatórios das empresas de cartão, o que faz com que o dinheiro não entre na conta do lojista. Esse dinheiro só será devidamente creditado se o gestor fizer a conciliação e abrir um processo na adquirente para ser reembolsado. Erros em taxas pré-acordadas também podem acontecer, fazendo com que o lojista receba menos do que deveria.
A conciliação, no entanto, nem sempre é factível de ser feita manualmente, devido ao volume de vendas que uma loja faz por dia. O ideal, portanto, é usar um software que, de forma automatizada, faça a conciliação das vendas com cartões. Não ache que esse valor “esquecido” é irrisório, porque não é.
Fonte: Varejo S/A
תגובות