PIX, WhatsApp e muito mais em um bate papo com Alexandre Pinto, diretor de inovação e novos negócios da Matera
Os sistemas de pagamentos instantâneos vêm ganhando espaço em todo o mundo. Esse tem sido uma alternativa para reduzir os custos gerados pelas bandeiras de cartão crédito e de bancos. No Brasil, o Banco Central está desenvolvendo o sistema denominado PIX, que promete, entre outras vantagens, substituir sistemas como o TED e o DOC por transações de baixo custo, operar 24 horas por dia, sete dias por semana e de forma online.
Sobre o assunto a Varejo S.A conversou com Alexandre Pinto, diretor de inovação e novos negócios da Matera, empresa de desenvolvimento de tecnologias para o mercado financeiro e fintechs. Na conversa, ele falou sobre a importância do desenvolvimento dos meios de pagamento para a economia, a revolução do sistema PIX e o surgimento de novos concorrentes no mercado, como as redes sociais e aplicativos.
Nunca se falou tanto em meios de pagamento. Porque esse assunto é tão importante?
A importância dos meios de pagamento em um âmbito geral é democratizar o acesso aos serviços financeiros. A evolução desses meios vai possibilitar que toda a população possa transacionar o dinheiro sem precisar de uma conta em um banco, e movimentar de forma mais ativa o varejo e a economia. É forma de fazer com que todos sejam parte desse processo, movimentando ainda mais o mercado, possibilitando diferentes formas de pagamento de acordo com o perfil de cada cliente, e que ele tenha a liberdade de escolha. Os meios de pagamento influenciam a dinâmica da economia. Quanto mais democrático, acessível e de baixo custo, mais o dinheiro gira, o que acaba impactando índices importantes, como o PIB, por exemplo.
E no dia a dia do varejo? Como isso é sentido?
Para o varejo é importante porque indica que tipo de cliente ele pode acessar. Quem não tem cartão de crédito, por exemplo, pode ser invisível para o comerciante. A evolução dos meios de pagamento consegue oferecer um conjunto de escolhas e, obviamente, uma variação de custo. Mesmo o dinheiro em espécie tem um custo alto, de transporte com carro forte, com o seguro que a loja precisa ter contra roubos, etc. O varejo, particularmente, pode se beneficiar muito desses processos para criar e estabelecer um relacionamento com o cliente como, por exemplo, criar ofertas quase em tempo real.
A evolução da forma de pagamento está sempre atrelada às inovações tecnológicas?
Certamente que a tecnologia tem um papel fundamental, principalmente nos últimos 25 anos com o surgimento da TED, cartões de débito e crédito, mas não é só ela. Existem outros fatores, como a questão dos órgãos reguladores, do quanto eles são abertos e permitem que inovações aconteçam. Se você tiver um órgão regulador avesso à inovação, isso vai impacta bastante na evolução dos meios de pagamento. Outro aspecto é o cultural. O hábito das pessoas é muito difícil de ser mudado. Se o cidadão usa cheque, se manda DOC etc. São processos que não estão atrelados à questão da tecnologia, e sim a como as pessoas se relacionam com o dinheiro.
Muita gente diz que os meios de pagamentos convencionais, como dinheiro, cartões e cheque, estão com os dias contados.
Existe uma tendência clara de redução desses meios de pagamento mais antigos, mas é muito forte dizer que eles vão sumir no curto prazo. De qualquer forma, os meios de pagamento eletrônicos se tornaram muito interessantes para o varejista, porque trazem mais comodidade e segurança para o empresário e para o consumidor. O único ponto que precisa ser ajustado é o custo dessas transações. O lojista paga muito caro pelas operações, mas já estão surgindo soluções no Banco Central e em fintechs para baixar esse custo. O mercado está se movimentando, as próprias adquirentes e credenciadores vem baixando as taxas e isso é um processo que mostra a evolução dos meios de pagamento no Brasil.
Qual a mudança nos meios de pagamento que o senhor considera mais significativa no Brasil?
A maior mudança certamente será o PIX, o novo sistema instantâneo de pagamentos desenvolvido pelo Banco Central (BC). A princípio, o PIX surge como uma alternativa que fará parte da rotina dos brasileiros, assim como a TED, o boleto e os cartões. Ele funciona por meio da leitura de QR Codes gerados pelo lojista, que debita da minha conta e credita na conta do estabelecimento comercial instantaneamente, podendo inclusive carregar as confirmações de pagamento para ambas as partes, diminuindo os custos de integração e conciliação.
O PIX só entra em operação em novembro. Como deve ser a assimilação desse produto?
Uma das vantagens do PIX é que, além da interoperabilidade e da conexão com todos os bancos e fintechs, ele já vai nascer com uma escala muito grande. Praticamente toda a população que tem conta em banco hoje já terá o PIX pronto para ser usado em novembro. Isso também é uma mudança bastante importante, o que realmente faz a gente acreditar que essa transição para o novo sistema do BC acontecerá de uma forma muito mais rápida, por exemplo, do que foi como o uso do cartão. Acho que tudo vai ser muito ágil, até porque o lojista deve incentivar o uso do PIX justamente pelos benefícios de facilidade, custo, etc.
Muitos dizem que esse sistema é revolucionário. É para tanto?
É mesmo algo transformador, porque traz uma característica para a rede de pagamentos que não existe na maior parte dos países do mundo. Essa característica de poder transferir dinheiro 24h por dia, sete dias por semana, de forma online é raro, ainda mais sendo de baixo custo. Outro ponto é que ela não está restrita apenas aos bancos tradicionais, pois o Banco Central abriu essa rede para outros participantes como as fintechs, dando mais possibilidade que uma instituição de pagamento consiga se conectar e, a partir daí, ganhar uma interoperabilidade do nível do Itaú, Bradesco, etc. A gente fica bastante contente e até orgulhoso desse processo. Foi um processo até democrático do Banco Central, envolvendo as empresas de tecnologia, os bancos, escritórios de advocacia, etc. Teremos muitos modelos de negócio que hoje a gente não consegue nem visualizar.
Quando se fala em sistema de pagamentos logo pensamos em fraude, hackers, etc. Estamos mais expostos às fraudes hoje?
Hoje estamos mais expostos porque um hacker consegue atingir milhares de pessoas de uma forma mais rápida, via e-mail, whatsapp, um boleto falso, um roubo de senha, etc. Por outro lado, o mercado já criou soluções tecnológicas para minimizar esse risco. Esse serviço não é de graça e tem um custo para o varejista, mas é eficiente. As pessoas confiam nos meios de pagamento atuais. Sabemos que existe um jogo de gato e rato, sempre tem alguém tentando burlar o sistema, enquanto as empresas buscam soluções para reduzir essa chance.
Recentemente os aplicativos e redes sociais surgiram como opção de pagamentos. Como o senhor vê esse movimento?
Acho que esse movimento tem um mérito importante que é o de despertar o interesse das pessoas. Ele é capaz de prover uma experiência de uso relacionada ao pagamento que é muito bacana. Operar uma compra pelo aplicativo pode ser tão simples quanto mandar fotos e áudios. Mas o WhatsApp, por exemplo, será uma carteira virtual, é uma e-wallet que, nesse momento, usa os meios de pagamento tradicionais e está sujeito às regras desse mundo antigo, como os custos altos de transação, por exemplo. De qualquer forma, vejo a entrada desses novos sistemas como uma forma de sacudir o mercado, já que bancos digitais vão ter que se mexer para oferecer algo tão simples e intuitivo como o WhatsApp.
FONTE: FCDL MG
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